sábado, 16 de outubro de 2010

Dia 9

Esqueci de dizer, mas na minha última postagem ficou claro que a Anna continua comigo. Queria que o Márcio também estivesse. Eu disse que ele não deveria voltar para o carro, mas ele insistiu que tinha esquecido uma mochila lá (acho que tinha mais comida, sei lá – só vou saber se eu tiver de voltar. E eu não quero).

Quando a gente precisou entrar aqui, no sétimo dia, a gente se arriscou um bocado. A Anna viu de longe que o portão e a porta da frente estavam abertos. Mas isso significava que “eles” também poderiam estar lá dentro. É uma casa na W3-Sul (uma avenida comercial em Brasília, com residências de um lado e uma infinidade de lojas do outro).

Por sorte não tinha ninguém aqui. Pelo menos nenhum vivo. Pelo menos nenhum zumbi. Mas tinha um morto. Provavelmente o dono da casa. Ele deu um tiro na cabeça com um 38, dentro do seu escritório, nos fundos. Já deve fazer bastante tempo. Trancamos a porta daquele cômodo por fora (a arma e a munição – a primeira de fogo que conseguimos até agora – ficaram comigo). Foi só precaução, pois ele não se levantou. Anna e eu ficamos nos perguntando o motivo de ele não ter levantado. Acho que foi o tiro. Na cabeça. Já tivemos experiências suficiente para supor que há algo com a cabeça deles. Tudo funciona lá, e tudo para lá.

Deu o que pensar. Um moribundo vive na UTI, mesmo que não tenha um sem número de órgãos. Vive sem coração, sem rim, sem fígado. Não sem um cérebro. Se a gente desativa o cérebro, eles caem mortos, como antes estavam. Ou não se levantam, como o Joel (nome que demos ao dono do quartinho).

Por sorte aqui tem comida para uns sete dias. Ou mais (estamos aprendendo a racionar). O problema é que não podemos ficar parados em um lugar por muito tempo. Eles são lentos, mas vão se amontoando ao redor de onde você está. A Anna não sai da janela quase nunca. Ela fica lá, “beirando” a cortina. Da última vez, ela me disse que deveriam ter uns 40 lá fora. Acho que é o cheiro.

Tirando o Joel, não fizemos muito nesses três dias que estamos aqui. Testamos um rádio, a televisão. Tudo fora do ar. E se estivermos abandonados aqui? Sozinhos?

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