quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dia 16

Não estamos sós. Eu e Anna, por meio da internet, estamos recebendo alguns contatos. Como não conseguimos encontrar ninguém vivo em nossas andanças, acredito que realmente são poucos os que não se contaminaram. Dos que recebemos notícias, Cedric está a caminho de Curitiba, Marcos está em trânsito e Júlio e Drika em Contagem (MG). Vocês podem ter notícias deles nos comentários. O último a se manifestar foi Bruno do Val. Ele está na Bolívia, mas parece que é brasileiro.

A noite foi tranquila em “nossa” nova casa. Ao que parece, as pessoas que antes moravam neste setor se transformaram em zumbis ou bateram em retirada. O portão do condomínio estava aberto, assim, os mortos andantes devem ter partido atrás de carne e cérebros nos últimos dias.

Ainda não convenci Anna a escrever aqui na internet. Talvez com o tempo. Ela está lá embaixo (estou no segundo andar desta enorme casa). Fiquei tentando tratar as fotos que acabei de baixar de seu celular. Vão ter de me desculpar, mas estão horríveis, mesmo porque foram tiradas à noite. Coloco aqui duas delas, pois ainda vou tentar tratar e clarear as outras. A primeira (à esquerda), segundo Anna, foi tirada ainda nos primeiros dias, quando estávamos com Márcio. A segunda (abaixo), na W3, enquanto fugíamos na Grand Cherokee pelo centro comercial (acredito que fora tirada perto da Polícia Federal).

Nosso morto-vivo, o que está trancado no quarto de empregados, lá fora, ganhou o nome de Jarbas. Em algum momento nos permitimos fazer piada da situação. Fico imaginando que ele vai sair de lá dentro com um terninho preto, básico. Contrastando com sua pele apodrecida e cinza. Isso se abrirmos a porta.

Anna cogitou a hipótese de ir atrás de seus dois parentes que tem aqui em Brasília. Tive que fazê-la mudar de ideia. Tenho seis parentes aqui e não quero arriscar. Márcio, que Deus o tenha, era órfão e não teria esse problema caso estivesse aqui. Se há uma regra que não pode ser quebrada no quesito invasão de mortos-vivos, essa é uma. Mesmo porque provavelmente todos estão mortos. Uma procura como essa seria arriscada (quanto mais tempo em trânsito, pior). Se encontramos um ente querido transformado em zumbi, então, fatalmente teremos de derrubá-lo. E atirar em alguém conhecido, mesmo que podre e cadavérico, é complicado. Fico imaginando que hesitaríamos. E esse momento de dúvida na frente de um morto-vivo é mortal.

Caralho! Ouvi barulho de tiros lá embaixo. Só pode ser Anna! Vou ter que descer.

7 comentários:

  1. Olá amigos, esperam que todos estejam bem. Fiquei contente em saber notícias de outros sobreviventes. Viajamos a noite inteira em uma estrada de terra no sentido La Paz, mas não conseguimos chegar lá ainda. O ônibus parou em uma pequena cidade chamada Oruro, que fica a uns 230km do nosso destino. Parece que o motorista ouviu uns boatos sobre a situação de La Paz e não vai mais até lá. Ficou com medo e decidiu voltar para Uyuni. Nick também estava com medo, então ela e Josh resolveram voltar com o ônibus. Eu e a Renata não vamos desistir. Sebastian e Mirna também irão conosco. Nós vamos atrás de respostas.

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  2. Bruno, não andem a noite. Minhas experiências a noite forma as piores. Infelizmente teremos que trocar o dia pela noite. Durma pouco, na hora do almoço de preferencia. O calor os deixa mais lerdos mas o frio os deixa mais ativos.

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  3. Cedric e Luciano estão certos com suas dicas.
    Consegui retornar à mineradora... me arrependi de ter saído... Contagem se transformou num inferno completo... a zona industrial (onde meu mano trabalha) está infestada dos nojentos... não sei com vocês, mas aqui o caos se iniciou durante o dia e pegou muitos de surpresa. Não consegui ver nenhum humano... só mortos-vivos. :(
    Espero que minha mãe e irmão estejam bem... tenho que continuar a cuidar de minha esposa e filho.

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  4. Marco Guinter, se consegui contato com sua mulher, pode passar esse link para que ela trace uma rota até onde estamos. Tem a foto da pedreira e a localização dela no mapa.

    http://www.panoramio.com/photo/17012128

    Não sei se porque é no alto, Bruno do Val já disse que eles podem ter problemas com altitude, mas até agora não tivemos problemas com mortos-vivos em nosso esconderijo.

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  5. Ainda estou vivo. Mas foi por pouco. Ontem, em Catalão, consegui dormir um pouco dentro da Pick-up, com a escopeta carregada do lado. Aparentemente estava tudo normal, estacionei perto de um posto de gasolina na beira da BR-040, logo tinha que viajar. Achei que tinha dormido 5 minutos, mas acordei com grunhidos. Era noite. Do lado de fora do carro uma multidãod e mortos, despedaçados, moídos permaneciam no chão vendo o seu e o sangue de muitos correr. Mas o pior não era isso. Tinha uns quarenta zumbis balançando a pick-up, batendo com pedras nos vidros. Meu Deus, que mau cheiro! Eu já havia sentido o fedor de cadáveres antes, mas não era assim. As enormes feridas de alguns mortos-vivos eram horrendas e cobertas de larvas. Nojento. Os ossos que apareciam em alguns corpos estavam na maioria quebrados ou se quebravam com facilidade. Liguei o carro e acelerei, mas não saia do lugar. Tinha zumbis no teto, que nesta altura já estava bem amassado. Tenho 1,85m e minha cabeça estava de lado, porque o teto da pick-up estava amassado demais. Do meu lado, um miserável desses conseguiu quebrar o vidro. Atirei nele, na cabeça. Eu nunca fui soldado, só havia atirado antes com pistola 9mm. O soco da escopeta machucou bastante meu ombro. Doeu muito. Da cabeça do nojento saiu uma gosma preta muito fedida que atingiu meu braço esquerdo. Não parecia muito com sangue, era mais uma lama preta, parecida com estas de esgoto. Com um pedaço da farda do PATAME do outro braço consegui limpar o máximo que pude, mas ficou meio acinzetado. Ativei a tração 4x4 da pick-up e acelerei na primeira marcha tudo que pude. Horrível a sensação de estar atropelando. Barulho de ossos quebrando me assustaram um pouco. Sei que não são humanos, mas a aparência ainda é. Alguns parecem ter se transformado em zumbis faz pouco tempo. Meu braço dói muito. Consegui chegar à BR-040 e só fui lembrar que estava na 1ª marcha quando começou a subir uma fumaça do capô. Estou na BR-040 ainda, perto de Sete Lagoas, já chegando em BH. Consegui acesso à internet em uma das cinco casas que entrei, todas abandonadas. Cedric tem razão, estas merdas ficam enlouquecidas à noite. De dia dá pra ir levando. Consegui comida. Meu braço está doendo demais, não sei que diabo de remédio vou passar para parar de doer, está ficando em carne viva. A pele ficou muito irritada, os pelos caíram. Estou preocupado com minha esposa, que está em algum lugar de BH. Vou aproveitar o horário e ir pra lá agora, não sei a situação de BH. O Sardinha (obrigado) avisou que Contagem está um inferno e vou passar por lá antes de chegar em casa. Se é que tenho alguma ainda. Nunca pensei em viver uma situação dessas. Tá foda.

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  6. Marco, continue na BR-040, lá pelo menos tem espaço para manobras... não passe pelo CINCO (distrito industrial)... repetindo, não passe por lá.

    Uma sugestão quanto ao braço, utilize BABOSA... essa planta sempre foi utilizada por indígenas para curar vários problemas na pele, portanto, não custa tentar. Aguardo retorno para saber se está tudo bem.

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  7. a pele fica irritada sim mas nada com que se preocupar. muito desse lodo ja caiu em mim mas evite a todo custo que caia na cara. Estou na 050, sai da 040 antes de passar por vcs. Meu caminho é outro mas vou passar por perto. Me avisem qualquer coisa. Não coça o braço, limpe bem e pode arder mas joga agua oxigenada.

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