domingo, 31 de outubro de 2010

Dia 18

Sinto-me mal por ter colocado a foto do Jarbas. Paciência. Ele também não estava aqui para bater um papo ou fazer amizade. Acho melhor não amolecer. Em terra de mortos-vivos, quanto mais estúpido for, mais vivo fica.

Entrei e pensei que ia encontrar Anna um pouco passada. Que nada. Estava em uma mesa com as outras três pistolas automáticas que pegamos no Setor Policial. Estava tirando e colocando novamente as balas nos pentes. Acho que Jarbas foi sua graduação.

O esmalte negro (ou cor de café, não sei) de Anna já está descascado pela metade. Seu cabelo ruivo, bonito tantas vezes, está um pouco ensebado. O rosto está cansado e há alguns arranhões aqui e ali (sempre que corremos saímos esbarrando nas coisas, nas paredes). Mas ela continua deslumbrante, principalmente com a roupa que está usando. Principalmente na penumbra. Mas ela é minha amiga...

Fico me perguntando até quando isso vai durar. O negócio de uma só mulher no mundo. Pelo mesmo uma só ao meu alcance.

Como ela ainda não quer participar desse relato na internet, não ouso colocar uma foto sua aqui. Mas coloco duas, assim podem também imaginá-la. Misture uma foto à outra e terá uma ideia (pois os cabelos são levemente encaracolados). Agradeço à internet mais uma vez por isso.


OS SOBREVIVENTES
Já tem algum tempo que não recebo notícia dos sobreviventes. Cedric estava indo para Curitiba. Não sei se conseguiu acessar a internet por onde anda. Bruno do Val e sua amiga (ou namorada, não sei) ainda estão na Bolívia. Queria saber a situação nessas duas cidades. Já por aqui, em Minas, Marcos, Júlio e Drika estão passando por maus bocados. Espero que ainda estejam bem...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia 17 (Jarbas)

Não há sinal de mortos-vivos por aqui. Isso é bom. Um sossego dado os últimos dias. E o único que tem, o Jarbas (demos esse nome ao zumbi que está preso no quartinho de empregados) viu hoje a luz do sol depois de sei lá quantos dias.

Anna disse que seria uma boa soltá-lo. Mas só para que pudesse atirar nele logo depois. Treinar com latinhas era uma coisa. Ter um morto andante na frente é outra.

Combinei tudo com Anna. Ela ficaria na frente da porta, com a arma. Eu fiquei quase que escondido, ao lado, com uma automática na cintura e um machado (encontrado na despensa dessa mansão que estamos “morando”). Se Anna errasse o tiro, eu tentaria ele, afinal, balas não duram para sempre.

Foi exatamente o que aconteceu. Anna se afastou e abri a chave, escancarando a porta. No início, silêncio. Depois, um rugido. Jarbas saiu de dentro do quartinho andando lentamente. Mais do que previa. Talvez as juntas tenham apodrecido por falta de movimentação, sei lá. Ele estava sem camisa e usava jeans e botas. Se Jarbas era mesmo um empregado, deveria ser um jardineiro ou coisa parecida.

Anna tentou três tiros. Dois acertaram o peito, que já aparecia bastante destruído (provavelmente de uma luta anterior com alguém). O outro acertou o rosto de raspão. Acho que se assustou por não ter acertado logo e recuou. Gritei para ela parar de atirar e se afastar. E isso chamou atenção de Jarbas. Ele não estava tão lento assim. Virou-se rápido na minha direção e escancarou a boca de forma assustadora. Deveria ter pegado a arma na cintura, mas levantei o machado no reflexo e baixei com toda a minha força. Acertou o ombro, perto da junção, deixando o braço pendurado por pouca coisa. Embora fosse mais difícil manusear aquilo do que eu supunha, tive uma ideia maluca. Precisei de mais duas machadadas para arrancar seu outro braço, o direito (mas esse foi mal cortado, na altura do bíceps).

Anna ficou um pouco em pânico com aquilo, mas, resumindo, consegui amarrar o morto-vivo na pilastra que sustentava o telhado da varanda da pequena casa de empregados. Não deu muito trabalho e não precisou de muita corda, afinal, Jarbas já estava sem os seus dois braços.

Olhar aquilo de perto foi horripilante. A pele de Jarbas estava cinza e amarela, com alguns setores roxos e negros. Uma mistura de cores estranhas que não são comuns a nenhuma pele. O branco dos olhos não existe mais. Ali só há veias, pus e um branco leitoso, opaco. Quase não há mais lábios. É como se a pele do rosto tivesse secado e se retraído, evidenciando quase toda a arcada de dentes amarelados em uma gengiva apodrecida, negra. Acredito que por causa do sangue, que não mais circula. É assim em todo o corpo.

Quando cheguei perto para ver, quase perdi meu nariz. Fui descuidado. Subestimei a fome de um morto-vivo. Ele se jogou para frente, esticando a corda de varal improvisada, e escancarou os dentes na minha direção. Logo depois veio um bafo podre e um grunhido em forma de lamento que me arrepiou. Também me deixou com pena. Ele não olhou para mim, me entenda. Achei que estava me encarando, mas apenas fitava minha carne. Acho que pouco importa o que olha, contanto que seja comestível.

Pedi para Anna entrar na casa, o que fez sem reclamar. Não podia deixar Jarbas daquele jeito. Primeiro dei um tiro com a escopeta bem no meio do peito. Tinha de testar, mais uma vez, uma alternativa que não fosse a cabeça. O chumbo abriu um rombo enorme, mas o morto-vivo continuou ali, se mexendo, querendo escapar, berrando com uma voz estranha que não consigo descrever. Um tiro bem no meio dos olhos acabou com o sofrimento do jardineiro (ou de um homem qualquer que gostava de usar botas e que por algum motivo estava sem camisa).

A foto ao lado eu tirei com meu próprio celular (descobri que a bateria de minha máquina fotográfica foi para o pau). Ficou muito boa, mas tive de tratar antes de colocar aqui. Tratei para piorá-la. Acho que são os velhos hábitos de jornalista. Ninguém merece ver a foto explícita de um cadáver. Mesmo de um zumbi. Até mesmo do jeito em que está soa de mal-gosto. Vou colocá-la mesmo assim. Para alguém que esteja nesse mundo por aí e ainda não viu uma dessas coisas.

Arrastei o Jarbas lá pra fora, no asfalto. Não o coloquei muito longe. Não é nada bom se afastar da casa sem algum planejamento. E mesmo que tivesse tempo e tranquilidade, não o enterraria. Nem mesmo o conhecia. Acho que essa história de apelidar zumbis é uma maneira que encontrei para buscar algum sentimento aqui dentro. Algum apego a qualquer coisa. Acho que os sentimentos estão se esvaindo depressa. Perigoso isso, não ter apego a mais nada...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dia 16 (noite)

Desci as escadas como um doido. Tiros do lado de fora da casa. Só pode ser a Anna, pois não vimos ninguém até agora. E se ela está atirando, temos problemas, pois ela sempre se negou a segurar uma arma.

Quando eu cheguei do lado de fora, na frente da casa (a casinha de empregados estava à esquerda e a piscina à direita), encontrei Anna em pé, com uma pistola nas mãos. Mas não tinha nenhum morto-vivo lá. Tirando o Jarbas, que ainda estava preso no quartinho e gemendo mais alto por causa do cheiro e do barulho dos tiros.
Anna atirou em três latas que ela colocou do outro lado da enorme piscina. E pelo visto, acertou todas elas depois de gastar sete balas. Ela acertou!

Antes mesmo que eu questionasse a arma em suas mãos, ela explicou que um parente morreu com um tiro e sempre odiou armas de fogo por causa daquilo. Mas que agora não era hora para pensar nisso, pois precisa se concentrar naquele futuro apocalíptico. Também explicou que treinava em uma chácara de amigos com uma pistola de chumbinho quando era adolescente. “E eu era uma das melhores”, disse. “Atirar com isso aqui não tem muita diferença... Então, que venham eles!”.

Anna está mudada. Acho que todos nós estamos, em algum nível. Acertar bala na cabeça dos outros, mesmo que estes já tenham morrido um dia, não é lá muito construtivo. Mas tem de ser feito.

Anna me ofereceu uma ideia muito louca. Pior que aceitei. Vamos trazer o Jarbas aqui pra fora. Vamos encontrar cara a cara nosso morto-vivo preso no quartinho.  

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dia 16

Não estamos sós. Eu e Anna, por meio da internet, estamos recebendo alguns contatos. Como não conseguimos encontrar ninguém vivo em nossas andanças, acredito que realmente são poucos os que não se contaminaram. Dos que recebemos notícias, Cedric está a caminho de Curitiba, Marcos está em trânsito e Júlio e Drika em Contagem (MG). Vocês podem ter notícias deles nos comentários. O último a se manifestar foi Bruno do Val. Ele está na Bolívia, mas parece que é brasileiro.

A noite foi tranquila em “nossa” nova casa. Ao que parece, as pessoas que antes moravam neste setor se transformaram em zumbis ou bateram em retirada. O portão do condomínio estava aberto, assim, os mortos andantes devem ter partido atrás de carne e cérebros nos últimos dias.

Ainda não convenci Anna a escrever aqui na internet. Talvez com o tempo. Ela está lá embaixo (estou no segundo andar desta enorme casa). Fiquei tentando tratar as fotos que acabei de baixar de seu celular. Vão ter de me desculpar, mas estão horríveis, mesmo porque foram tiradas à noite. Coloco aqui duas delas, pois ainda vou tentar tratar e clarear as outras. A primeira (à esquerda), segundo Anna, foi tirada ainda nos primeiros dias, quando estávamos com Márcio. A segunda (abaixo), na W3, enquanto fugíamos na Grand Cherokee pelo centro comercial (acredito que fora tirada perto da Polícia Federal).

Nosso morto-vivo, o que está trancado no quarto de empregados, lá fora, ganhou o nome de Jarbas. Em algum momento nos permitimos fazer piada da situação. Fico imaginando que ele vai sair de lá dentro com um terninho preto, básico. Contrastando com sua pele apodrecida e cinza. Isso se abrirmos a porta.

Anna cogitou a hipótese de ir atrás de seus dois parentes que tem aqui em Brasília. Tive que fazê-la mudar de ideia. Tenho seis parentes aqui e não quero arriscar. Márcio, que Deus o tenha, era órfão e não teria esse problema caso estivesse aqui. Se há uma regra que não pode ser quebrada no quesito invasão de mortos-vivos, essa é uma. Mesmo porque provavelmente todos estão mortos. Uma procura como essa seria arriscada (quanto mais tempo em trânsito, pior). Se encontramos um ente querido transformado em zumbi, então, fatalmente teremos de derrubá-lo. E atirar em alguém conhecido, mesmo que podre e cadavérico, é complicado. Fico imaginando que hesitaríamos. E esse momento de dúvida na frente de um morto-vivo é mortal.

Caralho! Ouvi barulho de tiros lá embaixo. Só pode ser Anna! Vou ter que descer.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dia 15 (Segundo contato)

Esqueci de comentar sobre o segundo contato. Fico feliz em saber que mais pessoas sobreviveram a isso tudo.
O nome dele é Marcos Guinter. Está armado, o que é bom sinal. Ele só não me disse onde está. Não sei até onde essa coisa de mortos-vivos chegou...

Quanto ao Cedric, ele parece estar em viagem para Curitiba. Tinha esperanças de encontrá-lo aqui, mas não vai ser possível. Não agora, pelo menos. Como eu disse, uma hora, todos vão ter de se encontrar.

Dia 15

Já estou escrevendo da casa que escolhemos. Antes de chegarmos aqui, Anna atropelou alguns mortos-vivos no caminho da Polícia Federal pra cá. Procuramos no Google Maps uma casa que tivesse boa localização, bons pontos de fuga e que seja forte o suficiente. Que estivesse, também, longe dos grandes centros (quanto mais rico o lugar, menos pessoas por metro quadrado, consequentemente, menos zumbis). É uma puta casa na SMPW, um setor de mansões próximo ao aeroporto. Poucas casas por perto, um baita descampado ao lado (uma fuga por lá seria opção) e possivelmente um lugar tranquilo para traçar o que vamos fazer a partir daqui.

A casa tem acesso ao telhado. E do telhado, acesso para os quatro cantos da rua. Ponto importante no aprendizado de sobrevivência contra zumbis: rotas de fuga. Esteja sempre preparado para ser cercado por mortos-vivos. Eles aparecem como formigas ao redor do açúcar. O problema que o doce aqui é a nossa carne, nossos cérebros.

Demoramos um bocado para “limpar” a casa. Vasculhamos todos os cômodos para saber se tinha sinal de um morto-vivo. E acreditem, tivemos uma ingrata surpresa. Numa pequena casa ao lado da grande (mas que faz parte da propriedade e que possui um quarto e um banheiro), descobrimos um morto-andante que foi trancado. Não entendo bem como aconteceu, mas quem morava ali provavelmente descobriu um infectado e o trancou lá antes de abandonar a mansão. Se era um empregado, um parente ou um desconhecido, eu não sei. Infelizmente as janelas estão fechadas, exatamente como a porta (com a chave na fechadura, pelo lado de fora). Só sabemos que há um zumbi lá dentro pelos gemidos. E pela excitação ao sentir nosso cheiro, quando nos aproximamos.

Anna não quis cuidar do assunto naquele instante, nem quis mudar de casa (já que dá um trabalhão fazer uma varredura). Decidimos ficar aqui, por enquanto. Trancamos tudo e, se der, visitamos esse zumbi trancado depois. A noite já está chegando e não é muito prudente ficar aqui fora.

Ah, esqueci de dizer. Anna me confessou que tirou algumas fotos com seu celular (eu nem sabia disso). Como seu celular é vagabundo, imagino que estão ruins. Mesmo assim, logo que baixar, coloco aqui. Faço questão que todos vejam. Tenho aqui uma máquina fotográfica comigo e um celular que tira fotos razoavelmente. Mas esses dias foram tão loucos que nem sequer pensei em fotografias. Prefiro andar com uma arma em cada mão... Cliques não derrubam esses desgraçados.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dia 15 (manhã)

Há pouco ainda estávamos em trânsito. Dirigimos com o sol nascendo, o que deixou o céu azul e laranja. Lindo esse céu de Brasília. Agora tem cheiro de morte. Era impossível prever como uma cidade ficaria depois de ser infestada por zumbis. Brasília, um lugar com mais carros do que deveria, está um caos. Milhares de automóveis estão parados nas ruas. Alguns já completamente carbonizados, outros engavetados em alguma batida feia e outros simplesmente parados por causa do último engarrafamento – quando os condutores provavelmente foram atacados e devorados pelos até então poucos mortos-vivos (e aí veio a reação em cadeia, pronto, temos todos os zumbis de que não precisávamos).

Graças ao Google Maps (Salve o Google!), consegui pensar com maior clareza (enquanto Anna se desdobrava para passar pelos carros parados – muitas vezes usando a calçada, graças à altura do carro). Antes do destino que escolhemos, passamos no Departamento da Polícia Federal, no Setor Policial (Brasília é assim, cheia de setores para tudo, inclusive motéis). Fiz uma matéria lá uma vez e sabia onde poderia encontrar armas e munição. Encontrei mais gente morta do que morta e andando (estes foram fáceis de driblar). Consegui uma grande bolsa e nela coloquei quatro pistolas automáticas, uma escopeta e uma cacetada de munição (o peso foi tanto que quase me dei mal na volta). Depois de conseguir tudo isso, fiz alguns testes: esses desgraçados realmente não caem se algo não destruir parcialmente seus cérebros. Tiros, até mesmo com a escopeta, em partes do corpo apenas dilaceram ou os param temporariamente. Só derrubei dois após tiros na cabeça. Agora que tenho munição, terei de treinar e insistir para que Anna faça o mesmo.

Antes de mostrar para onde fomos, quero colocar aqui onde estivemos. Não tirei fotos do lugar (deveria), mas a ferramenta do Google me ajuda. A quitinete, no PONTO A, era a casa de Márcio. Foi lá que passamos três dias enfurnados (e talvez por isso tenhamos perdido todo o desenvolvimento dessa coisa).
 
















De lá partimos para a W3 Sul, onde conseguimos uma casa (a do fadado e suicida Joel).

















A casa, se não me engano, é a marcada com o ponto azul. A parte em vermelho é a área que estava apinhada de mortos-vivos (desejei que o Google Maps atualizasse as fotos diariamente). A seta em amarelo foi o caminho que tomamos, por cima do telhado. Saímos pelas árvores, corremos pela pista e achamos o carro.

















Depois que nos instalarmos direito, conto o que mais aconteceu nesse dia. Por sorte, não há sinal de mortos-vivos por aqui.

domingo, 24 de outubro de 2010

Dia 14

Hoje foi um dia dos infernos. Só estamos vivos, eu e Anna, por milagre. Fui agarrado e quase mordido por aqueles malditos zumbis uma pá de vezes. Eu sabia que isso ia acontecer.

Estou começando a perceber que a sobrevivência em um mundo cheio de mortos-vivos passa pela necessidade de estar sempre um passo à frente. Eles andam devagar, eu sei, mas não é disso que eu estou falando.

Hoje, antes mesmo de o sol nascer (não sei a hora pois não uso relógio – e atualmente sinto menos necessidade ainda), acordamos os dois assustados (ambos estavam dormindo, damn it). Corri para a janela e lá estava, o portão no chão. Acho que a casa estava cercada por uns 200 deles naquele instante. Não tinha como aguentar. Eu sabia que a grade viria abaixo se eles continuassem a pressionar. Muito morto-vivo por metro quadrado.

Anna se desesperou. Não a via assim desde que saímos do apartamento do Márcio e esmaguei a cabeça de um deles. Ela olhou para a janela descrente e só conseguiu se mexer quando aquela onda bateu contra a porta, contra a janela, espalhando vidro pra todo lado. Gritei para ela correr, para pegar as mochilas, mas ela disse que não tinha saída, como escapar.

Tive que praticamente arrastá-la para o jardim de inverno. Coloquei uma estante lá, assim pudemos subir rápido. Depois de ajudá-la a subir, foi minha vez. E o fiz derrubando o móvel. Pelo menos ali, nenhum morto-vivo chegaria.

A visão lá de cima foi aterradora. Do telhado, Anna pôde ver a real situação em que estávamos. Acho que uns 300 zumbis cercavam a casa. Isso sem contar os que já tinham conseguido passar por cima da porta. Uma porrada entrou na pequena sala de jardim de inverno. Definitivamente eles usam o olfato.

Anna quis ficar ali por um tempo, abraçada. Mesmo porque o vento frio que batia ali em cima, no telhado, era de cortar a pele. Aproveitei para explicar o que eu já tinha em mente desde o dia anterior. Tínhamos de ir para o outro lado da rua, pelos telhados das casas. Tínhamos que descer, mesmo sabendo do risco de andar a pé por aí, e torcer para achar um carro que tivesse com a chave na ignição.

No início pareceu fácil. Conseguimos descer do outro lado, por uma casa com muro baixo. Não tinha ninguém (se é que um morto que anda pode ser chamado assim). Mas isso até virarmos a esquina. Três apareceram e corremos no sentido contrário. Lá tinham uns dez. Foi a primeira vez que usei o 38. No primeiro tiro, errei. No segundo, vi Anna se assustar com a cabeça do homem se espedaçando ao seu lado. Foi no zumbi mais perto dela que atirei. Pedi que corresse e quatro deles me seguraram.

Acho que consegui escapar e novamente ser capturado por aquelas mão sedentas umas cinco vezes. Foi o suficiente para Anna ganhar alguma dianteira. A alcancei pouco tempo depois, já perto do carro em que estamos agora. Uma Grand Cherokee antiga (me lembro de quando esse modelo foi lançado. Era adorado, mas hoje está ultrapassado). Estava parado na esquina de um comércio, após, supomos, bater de leve em outro carro. Garanto que o estúpido do dono desceu para discutir sem saber do que estava acontecendo lá fora.

É a Anna quem dirige agora, quanto escrevo. Pegando a internet nas ondas do ar. Incrível como ainda existiam pessoas que não colocavam senhas em suas conexões. Assim que parar em algum lugar seguro, volta a conversar com vocês.

sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 13

Agora falo realmente no dia certo. Hoje. Anna está colocando as coisas nas mochilas – concordou que a situação aqui está periclitante (nunca pensei que usaria essa palavra em sã consciência).

Ainda não mostrei a ela, mas lá atrás da casa tem um jardim de inverno – o único cômodo que não possui laje. Tem um telhado transparente no teto, justamente para deixar a luz entrar. Subi lá enquanto ela tomava banho, hoje, depois de acordarmos. A telha estava solta e não foi difícil remover. Subi no telhado, como na época de criança (o termo também significa “perto de morrer”, segundo a piada).

Vi duas coisas lá de cima. Uma que me deixou estarrecido e uma que me aliviou. Primeiro a notícia ruim. Tem mais mortos na rua em frente à casa que imaginei. Da janela não pudemos ver nem metade. São tantos que é impossível voltar ao carro que nos trouxe até aqui. A notícia boa é que as casas aqui na W3 Sul são interligadas, ou seja, dá para passar para o outro lado pelo telhado delas. Em um ou outro ponto talvez precisaremos andas pelo muro, mas é melhor isso que enfrentar aquele mar de zumbis lá fora.

Antes de descer, fiquei um tempo lá em cima. Primeiro por causa do sol. Não sentia ele em minha pele há algum tempo. Segundo para olhar lá para baixo. A carne nos corpos de quem está andando está apodrecendo cada vez mais. É repugnante. Alguns pedaços do rosto de um estavam se soltando. Já um outro parecia ter secado. A pele ficou esticada e enrugada ao mesmo tempo. Repuxada no pescoço, como se ele tivesse que fazer um esforço tremendo para qualquer movimento. Me pergunto onde isso vai parar.

Dia 12

Pelas minhas contas estou no Dia 13 desde que começou essa porcaria toda. Ontem não tive como usar o computador, então, vou atualizá-los em dobro.
Cedric, o primeiro que entrou em contato, parece estar bem. Encontrou uma casa com um rádio amador – o que é uma boa ideia. Meu pai tinha um antes de morrer. Mas me lembro também que, tirando caminhoneiros e policiais, poucos usavam aquilo. Pode ser uma boa para o futuro.

Eu e Anna não tivemos uma noite muito tranquila. Nós sempre dormimos juntos, pois um sempre fica em alerta. Eu, geralmente, que já passei algumas madrugadas praticamente em claro. E quando durmo, é tão pesado que um dos zumbis poderia invadir a casa que eu não acordaria – aí é a ruiva quem cuida de acordar facilmente.

Passei o dia de ontem (o 12º) procurando um jeito de sair dessa casa. Não estou gostando do que eu estou venda lá fora. Já são muitos os que estão na frente do portão. Acho que são atraídos pelo cheiro, pela luz, pelo barulho. Não sei bem como funciona. O fato é que eu não sei se o portão aguenta muito tempo.

Ri outro dia conversando com a Anna. Nos Estados Unidos, onde as casas não têm muro ou portão, e muitas são construídas com madeira, a festa dos mortos-vivos seria de arromba (seria ou foi?). Com essa quantidade de zumbis lá fora, a casa teria sido derrubada, fatalmente. Mas começo a imaginar que aqui não é diferente. Vocês não podem imaginar a força que pode ter um monte de gente junto. Já vimos isso acontecer em portões de estádios, mas nunca paramos realmente para pensar nisso. São como formigas. Se milhões delas se juntam, podem derrubar e matar um elefante.

Não contei ainda para Anna, mas acho que encontrei uma maneira. Arriscada, mas encontrei.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dia 11

Hoje o dia foi tranquilo, mas a noite não foi monótona. Depois de voltar da cozinha, passei em frente ao banheiro e levei um susto. Não era uma coisa ruim, mas me deixou surpreso. A porta estava entreaberta e Anna completamente nua. Estava embaixo do chuveiro, de olhos fechados.

Veja bem (você que não me conhece e precisa entender a situação). Anna tem pouco mais de 1,70m de altura, cintura fina e as pernas mais grossas e delineadas que eu já vi pessoalmente. Mas é minha amiga. Seu cabelo quase curto, loiro, raspado na nuca, pede para ser agarrado com gosto. Mas ela é minha amiga. E seus seios são firmes, pontudos, daqueles que faz qualquer um desviar a atenção de seu lindo rosto para eles. Mas é minha amiga. O problema é que minha amiga estava ali, deixando a água quente (enquanto ainda tem) rolar pelo corpo estonteante. E cada movimento seu se passava em câmera lenta.

Ela tinha deixado a porta aberta de propósito? Desejo pensar isso, mas não tenho certeza. A civilização, como conhecíamos, não existe mais. Os “outros” não estavam mais ali para “beirar” na fresta de um banheiro. Quando digo os outros, digo todo mundo.

Eu sei, tem uma pancada de zumbi lá fora. Uma cacetada de mortos-vivos que ficam gemendo horrendamente, como se dissessem: “Estamos com fome. De você”. Inevitavelmente lembrei de um filme... “Brains...”. O problema é que aqui, na realidade, eles não falam.

Voltando ao que interessa. Não entrei no banheiro. Deixei minha amiga lá. Deixei AQUELE corpo lá. Agora quem está com fome de carne sou eu. Saco. Ainda bem que ela não lê isso aqui. Já a convidei para escrever, mas ela nem quer chegar perto do computador. Se diz desanimada.

Será que ela sabe de minha vontade? Por isso fez aquilo? Toda mulher deveria saber que todo homem deseja comer suas amigas (não como aqueles troços lá de fora). Se você é mulher e tem um amigo, bingo! Ele quer comer você. Tem lá suas exceções, claro. Mas toda mulher tem um (s) amigo (s) que a quer. Elas deveriam saber disso (ou fingem muito bem).

Agora estou aqui na janela, esperando ela chegar com o cabelo molhado (aquele-que-dá-vontade-de-agarrar-com-vontade). Para distrair? Fico olhando os mortos-vivos que cercam a casa e se amontoam na frente do portão. Acho que agora devem ser quase cem. Pior, antes eles olhavam para o nada enquanto gemiam e batiam na grade. Agora, alguns deles parecem me encarar. Parecem estar olhando fixamente pra cá.

Primeiro contato (dia 10)

Hoje recebi o primeiro contato! Cedric Sigaud é o nome dele. E é de Brasília. Não estamos sozinhos! Aha! Isso é um ótimo sinal! É sensacional!

Ele não disse bem onde está, mas sobreviveu em um grupo de cinco pessoas que escaparam. Acessou a internet pelo celular (enquanto ainda tem bateria).

Isso me mostra o quanto eu e Anna temos sorte. Em um grupo de três, sobramos dois.

Espero realmente conseguir contato de outros sobreviventes. Um dia, uma hora, eles vão ter de se encontrar. Se conseguirem permanecer vivos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dia 10

Fico me perguntando por quanto tempo ainda teremos água, eletricidade, internet... Sim, porque alguém tem de fazer a manutenção. E tenho certeza que não tem ninguém lá para cuidar disso. Ou morreu ou correu para se esconder.

Nos últimos dias que andamos na rua, encontramos muito poucos vivos. Três deles estavam correndo e continuaram correndo. Não quiseram se arriscar. O outro que esbarramos estava sendo atacado. Dessa vez fomos nós que não paramos. Aliás, até paramos o carro, mas distante. Ele também estava dirigindo e acabou ficando preso entre quatro carros abandonados – são centenas nas ruas. Não pudemos fazer nada. Ficamos ali assistindo. Em pouco mais de um minuto, dezenas de mortos-vivos que estavam por perto cercaram o Gol. Ele se trancou lá dentro. Gritou por socorro.

Veja bem... Não neguei ajuda. Se estivesse lá, assistindo aquele enxame lento se amontoar em cima do veículo, desejaria estar longe. E depois que muitos se empurram, os vidros dos carros acabam quebrando. Aí é uma questão de tempo até que a vida do sujeito vá para a vala. Antes de engatar a primeira marcha e continuar o caminho no nosso carro, ainda vimos um braço ser arrancado daquele montinho ao redor do Gol e surgir no meio dos mortos. Apesar dos grunhidos das bestas, ouvimos o berro de dor.

Não é nada legal ver alguém ser atacado daquela forma, ser desmembrado por zumbis mortos de fome (trocadilho que não se encaixa e não é engraçado). Mas a pior parte são os gritos. Os de Márcio ainda estão na minha cabeça. Olhei pela janela para saber se o corpo dele ainda estava lá. Não está. Provavelmente foi devorado e arrastado em diferentes direções – imaginem vários cachorros brigando por um frango assado que cai no chão e conseguirá visualizar a cena.

Vou ali ver se tem algo para comer. Nos primeiros dias perdi a fome. Mas isso não acontece mais. 

sábado, 16 de outubro de 2010

Dia 9

Esqueci de dizer, mas na minha última postagem ficou claro que a Anna continua comigo. Queria que o Márcio também estivesse. Eu disse que ele não deveria voltar para o carro, mas ele insistiu que tinha esquecido uma mochila lá (acho que tinha mais comida, sei lá – só vou saber se eu tiver de voltar. E eu não quero).

Quando a gente precisou entrar aqui, no sétimo dia, a gente se arriscou um bocado. A Anna viu de longe que o portão e a porta da frente estavam abertos. Mas isso significava que “eles” também poderiam estar lá dentro. É uma casa na W3-Sul (uma avenida comercial em Brasília, com residências de um lado e uma infinidade de lojas do outro).

Por sorte não tinha ninguém aqui. Pelo menos nenhum vivo. Pelo menos nenhum zumbi. Mas tinha um morto. Provavelmente o dono da casa. Ele deu um tiro na cabeça com um 38, dentro do seu escritório, nos fundos. Já deve fazer bastante tempo. Trancamos a porta daquele cômodo por fora (a arma e a munição – a primeira de fogo que conseguimos até agora – ficaram comigo). Foi só precaução, pois ele não se levantou. Anna e eu ficamos nos perguntando o motivo de ele não ter levantado. Acho que foi o tiro. Na cabeça. Já tivemos experiências suficiente para supor que há algo com a cabeça deles. Tudo funciona lá, e tudo para lá.

Deu o que pensar. Um moribundo vive na UTI, mesmo que não tenha um sem número de órgãos. Vive sem coração, sem rim, sem fígado. Não sem um cérebro. Se a gente desativa o cérebro, eles caem mortos, como antes estavam. Ou não se levantam, como o Joel (nome que demos ao dono do quartinho).

Por sorte aqui tem comida para uns sete dias. Ou mais (estamos aprendendo a racionar). O problema é que não podemos ficar parados em um lugar por muito tempo. Eles são lentos, mas vão se amontoando ao redor de onde você está. A Anna não sai da janela quase nunca. Ela fica lá, “beirando” a cortina. Da última vez, ela me disse que deveriam ter uns 40 lá fora. Acho que é o cheiro.

Tirando o Joel, não fizemos muito nesses três dias que estamos aqui. Testamos um rádio, a televisão. Tudo fora do ar. E se estivermos abandonados aqui? Sozinhos?

Dia 8 (cont)

Quando nós saímos da quitinete do Márcio, estávamos morrendo de fome (e Anna de medo). Mas a gente não tinha ideia do que era fome.

Logo na portaria, a gente encontrou nosso primeiro morto-vivo. Falando assim parece até piada. Ele estava debruçado sobre o corpo que deveria ter sido de uma senhora. Deveria porque não deu para identificar direito. Metade da cabeça tinha desaparecido ou se misturava ao sangue já quase seco que manchava o piso esverdeado do blobo. Também quase não havia carne no tórax, nos braços e nas pernas. Um pedaço da carne de uma delas, aliás, jazia perambulante na boca do morto-vivo, que virou a cabeça na nossa direção assim que descemos das escadas. Ele encarou a gente, quase hesitante, e parou de mastigar. Era como se ele tivesse percebido que não deveria continuar comendo aqueles restos borrachentos, já que estavam ali, em sua frente, três enormes pedaços de carne nova. Juro que a cena durou um século e arrepiou até o último fio de cabelo. Uma coisa era ver aquilo em filme, outra na real. Bem na sua fuça.

Era um garoto, de uns 20 anos no máximo. A pele era muito, mas muito branca (só que não tinha veias à mostra). Talvez por isso o sangue e os pedaços de carne humana (aquilo ainda perpetua meus sonhos) ficavam tão destacados em seu rosto. As mãos também estavam cobertas por um vermelho escuro gotejante. Havia daquilo até mesmo sob as unhas do moleque.

Se eu tivesse que contar com Márcio e Anna, que estavam estáticos, hoje eu estaria morto, ou sozinho. O garoto rugiu como um animal e partiu para cima de Anna, que se assustou e o empurrou com as duas mãos espalmadas. E teria lhe cravado os dentes na segunda investida se eu não tivesse pegado o extintor pendurado (sempre achei que jamais usaria um deles – pois ficam ali enfeitando a parede, eternamente). A primeira porrada foi no lado direito do rosto e abaixei a guarda. Achei que seria suficiente. Principalmente após perceber que os ossos da face tinham afundado, deslocando o nariz e o olho, e deixando uma pele murcha caída de lado. Mas ele não sentiu aquilo. E continuou. Não pensei que eu fosse explodir daquele jeito, mas parti para cima do garoto e bati com o extintor mais três, quatro vezes. Mentira. Acho que foi umas vinte. Até meu braço cansar. A cabeça do menino foi embora, dispersa no piso. Os pedaços ficaram espalhados, assim como o vômito de Márcio. Anna e eu teríamos feito o mesmo se ainda tivéssemos algo no estômago.

Nós corremos como doidos para o carro e passamos em vários lugares depois disso. Mas os dias 4, 5 e 6 eu não quero comentar. Não agora. O que interessa é que estou na casa de um desconhecido. Márcio, como eu já disse, ficou lá fora.

A Anna está me chamando. Se der, entro mais tarde para contar como chegamos aqui.

Dia 8

O barulho de ontem, aparentemente, não era nada. Então posso resumir os outros sete dias.
Já dentro da quitinete, eu, Anna e Márcio não tínhamos uma visão muito ampla de tudo, pois a única janela dava para outro prédio. Então recorremos à televisão. Só deu tempo de ver pouco mais de duas horas de noticiário, e só em um canal – por causa da droga da antena interna de porcaria da TV do Márcio.
O jornal local disse que os mortos estavam literalmente se levantando. No IML, nos cemitérios, em cenas de assassinatos. O apresentador disse várias e várias vezes que aquilo não era uma brincadeira e só acreditamos nas imagens porque já tínhamos visto a confusão na rua.
Antes de a emissora sair do ar, conseguimos ver algumas imagens de pessoas sendo atacadas, de acidentes… Depois entrou aquele aviso escrito, chato, dizendo que o sinal logo seria estabelecido. De lá pra cá, mais nada de TV. Rádio não tinha na casa do Márcio (mas quando pudemos verificar, também estava mudo).
Tentamos falar com os vizinhos, berrando pela janela. Ninguém respondeu - ou todos tinham ido embora ou estavam com medo de responder.
Fato é que ficamos dentro da quitinete por três dias seguidos, de portas fechadas. Todos morrendo de medo. Ouvimos barulhos, vez ou outra, mas permanecemos quietos. Ainda não imaginávamos (ou não queríamos aceitar) que os arredores do prédio, a rua, a cidade inteira estava repleta de mortos-vivos.

Ainda não tínhamos esbarrado com nenhum deles. Mas as sardinhas e pipocas da quitinete do Márcio já tinham acabado. E quase 24 horas sem comer fez a gente se desesperar. Fez a gente sair dali. Foi só então que a gente deu de cara com um zumbi, com um morto-vivo, seja lá que nome posso dar para aquilo…

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia 7

Por que começo pelo dia sete e não pelo dia um? Pelas minhas contas, já se passaram sete dias desde que tudo começou.

Eu e mais três amigos, Anna, Márcio e Junior, estávamos fazendo uma bagunça (vou chamar assim para não entrar em detalhes) na casa de um outro amigo, no Lago Sul (como um bairro aqui em Brasília). Passamos a noite e a madrugada bebendo todas com som alto. Não vimos o noticiário nem escutamos a confusão. Só de manhã consegui ouvir o que pareceu ser uma explosão. Subi com Anna e um cara que não conhecia no terceiro andar, na sacada, e de lá conseguimos ver que tinha fumaça saindo de vários lugares em Brasília (de lá dá pra ver grande parte da capital).
Junior não quis ir embora, mas Anna, Márcio e eu pegamos o carro e saímos. O que a gente encontrou no caminho foi inacreditável. Carros batidos, pessoas ensanguentadas por todos os lados, um prédio pegando fogo. Eu quis parar para fotografar, mas o Márcio estava tão desesperado que a gente correu para a quitinete dele, na quadra 412 Sul.

Estou ouvindo barulhos estranhos. Depois volto.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Começo

Você pode muito bem não creditar... Mas os mortos estão andando. Os mortos estão vivos!
Espero que meu relato aqui (você lê o meu passado para ajudar o seu futuro) possa fazer com que as entendam o que está acontecendo...

Ao que parece, finalmente consegui escrever usando a internet. Tudo está um caos e jamais pensei que a energia ainda poderia estar funcionando.
Tudo o que tenho em minha mochila é meu notebook, um iPod, uma máquina fotográfica, minha carteira e um celular que não funciona mais.
Estou na casa de uma pessoa desconhecida e só entrei aqui porque acabei de ver um de meus amigos ser atacado por um morto. Se você não está passando pelo mesmo que eu (agradeço à abrangência da internet), vai ter de ler aqui para entender. E tenho de torcer para que acredite. O morto é um morto-vivo. Foi assim que chamaram no noticiário antes de a TV sair do ar. Ele simplesmente abocanhou a cabeça do Márcio. Nunca vi tanto sangue na vida e nunca corri tanto.

Espero poder continuar escrevendo. Espero me manter vivo.
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