domingo, 24 de outubro de 2010

Dia 14

Hoje foi um dia dos infernos. Só estamos vivos, eu e Anna, por milagre. Fui agarrado e quase mordido por aqueles malditos zumbis uma pá de vezes. Eu sabia que isso ia acontecer.

Estou começando a perceber que a sobrevivência em um mundo cheio de mortos-vivos passa pela necessidade de estar sempre um passo à frente. Eles andam devagar, eu sei, mas não é disso que eu estou falando.

Hoje, antes mesmo de o sol nascer (não sei a hora pois não uso relógio – e atualmente sinto menos necessidade ainda), acordamos os dois assustados (ambos estavam dormindo, damn it). Corri para a janela e lá estava, o portão no chão. Acho que a casa estava cercada por uns 200 deles naquele instante. Não tinha como aguentar. Eu sabia que a grade viria abaixo se eles continuassem a pressionar. Muito morto-vivo por metro quadrado.

Anna se desesperou. Não a via assim desde que saímos do apartamento do Márcio e esmaguei a cabeça de um deles. Ela olhou para a janela descrente e só conseguiu se mexer quando aquela onda bateu contra a porta, contra a janela, espalhando vidro pra todo lado. Gritei para ela correr, para pegar as mochilas, mas ela disse que não tinha saída, como escapar.

Tive que praticamente arrastá-la para o jardim de inverno. Coloquei uma estante lá, assim pudemos subir rápido. Depois de ajudá-la a subir, foi minha vez. E o fiz derrubando o móvel. Pelo menos ali, nenhum morto-vivo chegaria.

A visão lá de cima foi aterradora. Do telhado, Anna pôde ver a real situação em que estávamos. Acho que uns 300 zumbis cercavam a casa. Isso sem contar os que já tinham conseguido passar por cima da porta. Uma porrada entrou na pequena sala de jardim de inverno. Definitivamente eles usam o olfato.

Anna quis ficar ali por um tempo, abraçada. Mesmo porque o vento frio que batia ali em cima, no telhado, era de cortar a pele. Aproveitei para explicar o que eu já tinha em mente desde o dia anterior. Tínhamos de ir para o outro lado da rua, pelos telhados das casas. Tínhamos que descer, mesmo sabendo do risco de andar a pé por aí, e torcer para achar um carro que tivesse com a chave na ignição.

No início pareceu fácil. Conseguimos descer do outro lado, por uma casa com muro baixo. Não tinha ninguém (se é que um morto que anda pode ser chamado assim). Mas isso até virarmos a esquina. Três apareceram e corremos no sentido contrário. Lá tinham uns dez. Foi a primeira vez que usei o 38. No primeiro tiro, errei. No segundo, vi Anna se assustar com a cabeça do homem se espedaçando ao seu lado. Foi no zumbi mais perto dela que atirei. Pedi que corresse e quatro deles me seguraram.

Acho que consegui escapar e novamente ser capturado por aquelas mão sedentas umas cinco vezes. Foi o suficiente para Anna ganhar alguma dianteira. A alcancei pouco tempo depois, já perto do carro em que estamos agora. Uma Grand Cherokee antiga (me lembro de quando esse modelo foi lançado. Era adorado, mas hoje está ultrapassado). Estava parado na esquina de um comércio, após, supomos, bater de leve em outro carro. Garanto que o estúpido do dono desceu para discutir sem saber do que estava acontecendo lá fora.

É a Anna quem dirige agora, quanto escrevo. Pegando a internet nas ondas do ar. Incrível como ainda existiam pessoas que não colocavam senhas em suas conexões. Assim que parar em algum lugar seguro, volta a conversar com vocês.

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