sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 13

Agora falo realmente no dia certo. Hoje. Anna está colocando as coisas nas mochilas – concordou que a situação aqui está periclitante (nunca pensei que usaria essa palavra em sã consciência).

Ainda não mostrei a ela, mas lá atrás da casa tem um jardim de inverno – o único cômodo que não possui laje. Tem um telhado transparente no teto, justamente para deixar a luz entrar. Subi lá enquanto ela tomava banho, hoje, depois de acordarmos. A telha estava solta e não foi difícil remover. Subi no telhado, como na época de criança (o termo também significa “perto de morrer”, segundo a piada).

Vi duas coisas lá de cima. Uma que me deixou estarrecido e uma que me aliviou. Primeiro a notícia ruim. Tem mais mortos na rua em frente à casa que imaginei. Da janela não pudemos ver nem metade. São tantos que é impossível voltar ao carro que nos trouxe até aqui. A notícia boa é que as casas aqui na W3 Sul são interligadas, ou seja, dá para passar para o outro lado pelo telhado delas. Em um ou outro ponto talvez precisaremos andas pelo muro, mas é melhor isso que enfrentar aquele mar de zumbis lá fora.

Antes de descer, fiquei um tempo lá em cima. Primeiro por causa do sol. Não sentia ele em minha pele há algum tempo. Segundo para olhar lá para baixo. A carne nos corpos de quem está andando está apodrecendo cada vez mais. É repugnante. Alguns pedaços do rosto de um estavam se soltando. Já um outro parecia ter secado. A pele ficou esticada e enrugada ao mesmo tempo. Repuxada no pescoço, como se ele tivesse que fazer um esforço tremendo para qualquer movimento. Me pergunto onde isso vai parar.

Um comentário:

  1. É um alívio saber que vcs estão bem. Faz 2 dias que não tinha notícias suas, imaginei o pior.
    Estou com planos de ir para o sul, litoral. Fugas aéreas são impossíveis mas não tenho muito tempo para escrever aqui agora. Estou arrumando as coisas para partir ainda hoje.
    http://osmortosandam.blogspot.com

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