terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia 19 (Finados)

Sinto medo, muito medo mesmo... Mas aprendi que sentir medo é bom. Quando se sente medo, é prova de que ainda está vivo.

Acho que os tiros de ontem em Jarbas (morto-vivo que estava preso em um quarto aqui, na casa em que estamos) foram ouvidos. Por eles. Quando chegamos aqui, não havia um único zumbi. Hoje, pelo menos uma dezena deles está lá fora, vagando pela rua e procurando por algo.

Se minhas contas estão certas, hoje é Dia de Finados. Dia dos Mortos. Uma ironia que me fez rir de nervoso. No Dia dos Mortos, nesse Dia dos Mortos, são eles que vieram me visitar. Acho que para pagar todos os outros dias em que não fui visitá-los no cemitério no Dia de Todos os Santos. Nunca gostei de cemitérios... Engraçado, pois minha cidade virou um cemitério a céu aberto.

Onde eles deveriam estar...
Não sei o que atraiu esses novos mortos-vivos pra cá, se os tiros ou os berros e grunhidos desconexos de Jarbas enquanto tinha os dois braços arrancados e a cabeça estraçalhada por uma bala. Fato é que estamos novamente sitiados e não duvido que mais deles cheguem com o tempo.

Anna está ao meu lado. Lê o que escrevo. Ela disse que vai pensar em escrever (finalmente). Ela está armada até os dentes. O olhar está diferente (ela agora foi até a janela). Agora sei que “eles” mudam a gente. Não somos mais quem éramos.

Volto a escrever em breve, pois ouvimos tiros lá fora... Não sabemos de onde vem, mas isso é um ótimo sinal. Anna está tentando encontrar a origem, mas está escuro lá fora. Alguém está atirando! Está atirando!

Um comentário:

  1. Como fico feliz de saber que não sou o único, que não estou sozinho nesse quadrado no centro do país!
    Desde que toda essa loucura começou estou muito confuso com tudo que está acontecendo, já descobri (da pior forma possível) que os mortos não estão realmente mortos e que são muito perigosos, principalmente quando estão em “bandos”.
    Definitivamente preciso conseguir uma arma de fogo, mas não tenho como sair de casa. Quem diria que o estilo de prédios de Brasília, todos iguais e impessoais, onde vizinhos de porta não se cumprimentam, seria o meu refúgio e poderiam me salvar de uma situação como essa. Achei um apartamento na 209 norte, com certeza a quadra não é mais a mesma, antes tão cheia de gente freqüentando os bares, hoje só destruição e carros abandonados. A casa estava revirada e com gavetas abertas, creio que a família que morava aqui tentou fugir as pressas e tentaram levar o que deu. Existem algumas fotos nas paredes e em porta-retratos na sala de estar, parece que a família era composta por 4 pessoas, um casal e duas filhas. Me pergunto onde eles podem estar? Se estão vivos? Se são zumbis? Bom, pouco me importa agora, sei que o apartamento que deve ter trazido muitas alegrias a esta família hoje me serve de abrigo e proteção. Creio que a família que aqui morava deve ter feito as compras do mês alguns dias antes do acontecido, com isso ainda tenho alguma comida para mais alguns dias. Não sei como vou sair daqui, tenho que pensar em algo logo. Não posso ficar aqui pra sempre!
    Pela janela consigo ver os mortos, perambulando pela rua, procurando por carne, por sobreviventes. E isso me intriga, porque eles não atacam uns aos outros? Porque na insana busca por comida eles não acabam comendo outros zumbis?
    Antes de tudo isso acontecer eu estava me formando no curso de Biomedicina no UniCEUB, trabalhava na Embrapa com pesquisas genéticas.Existe uma OTIMA infra-estrutura laboratorial na Embrapa Cenargen, no final da asa norte. Será que com uma amostra desses mortos é possível descobrir alguma coisa?
    Mantenham contato.

    Marne Azarias

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