terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dia 33

Aos que me acompanham em minha luta pela sobrevivência, não há motivo para preocupação. Fiquei mais de dois dias sem escrever, após a louca fuga da loja de conveniência do posto de combustível do aeroporto. Até chegar aqui (já conto) e se estabelecer, passamos por maus bocados.

Conseguimos sair em uma Range Rover preta, quase sem combustível, então tivemos que parar em um posto da Asa Sul. Anna abasteceu até a boca enquanto tive de atirar em um bocado de mortos-vivos. A pintura desse belo carro também já foi para o espaço, uma vez que tivemos de bater e arrastar alguns outros veículos que estavam pelo caminho.

Nosso “passeio” pela cidade não foi nada animador. Foi aterrorizante, para dizer a verdade. As ruas estão tomadas por eles. Procurei não atropelá-los com força, pois podia danificar o carro, mas fui obrigado a colocar terceira marcha e passar por cima de vários nos pontos mais críticos. A paisagem de Brasília não é mais a mesma. As ruas, antes largas e vazias no que diz respeito a pessoas, estão agora negras, de tantos zumbis apinhados.

O primeiro erro nesta nova incursão foi parar em uma padaria para conseguir alguma comida. Assim que entramos, quase vomitamos com o cheiro do lugar. Quase tudo que poderia estragar e que foi deixado para trás já estava verde ou negro. O cheiro é ainda pior que o dos mortos. Conseguimos algumas coisas empacotadas, mas acabamos encurralados por uns seis zumbis. “Burro”, pensei, “as padarias têm, geralmente, só uma entrada. Tive de abater três deles e lutar contra outros três. Anna junto. E foi aí que ela torceu o pé. Não sei como consegui arrastá-la até o carro, mas estamos vivos. Ela sem poder andar direito e eu com um corte profundo no braço – conseguido graças a um vidro quebrado do freezer.

Onde estamos agora? Em um shopping Center (é estranho usar a segunda palavra para esse estabelecimento. Ninguém o faz). Paramos o carro em uma das entradas, pois não avistamos nenhum morto-vivo por aqui. Aliás, só encontramos o primeiro ontem, que foi abatido a pancadas, sem tiros, para não chamar atenção. Incrível isso aqui estar vazio.

Mas é fácil imaginar o motivo disso aqui estar vazio. Quando a notícia foi dada, a do caos, todos se preocuparam em fugir, em conseguir comida ou em arrumar um lugar seguro e fechado para se trancar. Ou os três juntos. Ninguém pensou em um shopping. Ninguém pensou em comprar – muito do que foi conseguido na histeria deve ter sido saqueado. E sem carne viva em um shopping, sem mortos-vivos a procurar.

Nos instalamos em uma loja de tecnologia – uma que tem de tudo, mas tudo mesmo. Tive tempo de procurar baterias extras para o meu computador e estou carregando elas, para o caso de a energia acabar. Aliás, essa pergunta me aflige. Até quando a teremos?

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