terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dia 29

Ainda não sei como tenho nervos para escrever aqui depois de tudo o que aconteceu. Ontem, depois de sairmos da mansão onde estávamos instalados, Karen foi atacada pelos mortos-vivos e quase não consegue entrar no carro. Anna não viu, mas eu percebi, pelo retrovisor, que nossa nova amiga foi mordida. Ou algo parecido. Sei que enrolou um lenço no antebraço. Esperava, naquele instante, que fosse apenas um arranhão da grade, um corte ou algo parecido.

Depois de trocar de lugar com Anna, que estava muito menos assustada que dias atrás, em outras fugas, dirigi rumo ao aeroporto. Era o combinado. Precisei atropelar um zumbi que estava em um grupo de cinco no meio da pista, mas, fora isso, o caminho foi tranquilo. Como imaginávamos. Quase nunca havia trânsito pesado no acesso ao aeroporto – e Karen nos avisou que viu no noticiário, dois dias depois do acontecimento, que todos os aeroportos foram fechados. Provavelmente por causa dos inúmeros acidentes aéreos ao redor do mundo.

Algo que não contei a vocês. Eu e Anna não tivemos a chance de ver o noticiário, mas Karen nos atualizou, pois viu alguma coisa na televisão. Quando o caos se instalou, aeroportos foram fechados, as autoridades pediram para que todos ficassem em casa – o que não funcionou, congestionando as rodovias – e que, em breve, novos direcionamentos e comunicados chegariam. Isso nunca aconteceu. Karen disse que apenas alguns canais ficaram no ar, mas com avisos automáticos.

“Essa foi por pouco”, foi só o que disse Karen, olhando distante pela janela.

A entrada do aeroporto estava praticamente vazia. À direita, onde havia várias concessionárias de marcas caras, só era possível ver o mar de carros em exposição. À esquerda, onde se localizavam os pátios de manutenção e empresas de táxi aéreo, estava vazio como antes. Mais à frente, entrei na área de desembarque. Alguns táxis ainda estavam lá, misturados a alguns carros vazios, alguns com as portas abertas. Outros estavam carbonizados e dois deles tinham os bancos completamente cobertos por sangue já ressecado. Mais para dentro, perto dos portões de desembarque, um carnívoro caminhava solitariamente. Não pude ver direito, mas aposto que vestia o que um dia foi um uniforme de técnico de pista ou coisa assim. Anna tirou uma FOTO com o celular. Está ficando boa nisso.

Foi a deixa para sairmos dali. Dei a volta e logo que avistei o posto me lembrei que estávamos com pouca comida. Quando o mundo ainda era dos vivos, o snackshop 24 horas daquele posto, a loja de conveniência, era ponto de encontro para quem estava saindo para uma noitada ou voltando dela. Lá com certeza tinha comida.

Estacionamos o carro bem em frente às portas de vidro, que estavam escancaradas. Descemos, pegamos as armas e as mochilas, entramos e fechamos tudo. A loja inteira estava revirada, sem comida nenhuma. Mas algo me dizia que atrás da porta de funcionários havia um estoque. Tinha de ter. Muita gente passava ali todos os dias. E também não podíamos ficar ali, com aquele tanto de vidro. Logo iria amanhecer e a loja se transformaria em um aquário aos carnívoros.

Fiquei feliz por estar certo. A sala de estoque e descanso dos funcionários era quase tão grande quanto a loja, tinha apenas uma pequena janela e a porta era comum, mas com trancas. E havia muita besteira pra comer. E isso foi um alívio.

Estou escrevendo aqui enquanto Karen está lá na frente. Pediu que ficássemos aqui. Que iria até lá para ver o nascer do sol e para vigiar um pouco. Aproveitei para contar a Anna sobre a possível mordida. Tive de tapar a boca dela para que não gritasse ou chamasse atenção. Sinceramente? Não sei o que vou fazer. E tenho medo da reação da Anna quando ela voltar. Karen é esperta. Mais que isso... É agressiva.

Um comentário:

  1. Bom saber que vocês ainda estão bem. Só agora consegui um lugar "tranquilo" pra dar notícias. Minha fuga de casa deu mais ou menos certo. No começo eles foram atraídos pela minha armadilha na portaria, mas no minuto que eu saí pelo outro lado, o cheiro de carne fresca falou mais alto. Deu tempo de correr para a rua e entrar no meu carro. Tive que atropelar vários deles pra sair da quadra, mas consegui. O problema é que não sabia pra onde ir. Me afastei o máximo do plano piloto, tentando evitar a concentração de zumbis. Parti rumo a um condomínio pra lá do Lago Sul e do Jardim Botânico, onde uma amiga morou. É afastado de tudo e tem poucas casas, logo, menos gente. Estou aqui e vi movimento em algumas casas, mas não tenho certeza se são sobreviventes, e nem vou tentar descobrir por enquanto. Achei uma casa mais afastada e aqui estou. Acredito que seja possível passar um tempo por aqui, já que não há indícios deles por aqui. Vou tentar sair para abastecer o carro e o estoque de comida. Espero que vcs consigam sair daqui logo. E cuidado com a Karen, se foi mordida mesmo, é melhor acabar com o problema.

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