quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dia 20

Antes de tudo tenho de dizer que recebi mais dois contatos de pessoas vivas em Brasília. Nem tudo está perdido. Acho que, com o tempo, um ou outro vai aparecer. E uma hora teremos de decidir o que fazer.

Um deles é Vagner Vargas. Está em sua própria casa, na Asa Norte. O outro é Marne Azarias. Também está na Asa Norte, mas, ao que parece, se refugiou em um apartamento alheio, exatamente como temos feito eu e Anna (já cogitamos a hipótese de irmos para nossas casas, mas achamos arriscado. O conceito “minha casa”, nessa altura, não existe mais). O bom de Marne é que ele estava estudando Biomedicina... Sorte ter um desse vivo. Vamos precisar deles? De estudos? Espero que sim.

Como citei aqui ontem, parei de escrever porque ouvi tiros lá fora. Anna voltou assustada da janela e me abraçou. Não sei se por medo ou felicidade. O medo, provavelmente, por pensar que, hipoteticamente, um deles fosse capaz de segurar uma arma. A felicidade por ouvir o primeiro sinal de “humanidade” desde que tudo começou a acontecer. Engraçada essa história de ligar tiros a algo humano. A pior criação da humanidade servindo para identificá-la...

Fomos os dois à janela da sala. Ficamos olhando por longos minutos à espera de outro tiro, que veio e derrubou um dos zumbis que tinham sido atraídos uma hora antes. Tiro com barulho alto, demorado. Se eu me lembro bem, deve ser uma espingarda. Algo na memória que envolve meu avô e uma fazendo. Não me recordo bem.

Em homenagem ao meu avô

Está escuro lá fora e não dá para enxergar nada. A luz dos postes ainda funciona, mas é o mesmo que nada. Tivemos de esperar mais meia hora por outro tiro. Esse acertou um morto-vivo no corpo, que voou longe, mas depois se levantou – provavelmente com um rombo. Anna disse que viu o fogo saindo do cano, na casa em frente. Não deu pra ter certeza. Aqui a rua é larga, os vizinhos da frente moram longe. Se fosse rua de pobre, seria bem perto.

O jeito vai ser esperar. Pela manhã, arrisco ir lá fora para ver melhor. Acho que dá para ir ao portão – os poucos que foram atraídos apenas perambulam pelas ruas. Por enquanto, não corremos o risco de ter um mar de mortos empurrando a grade.

2 comentários:

  1. Ainda no apartamento na 707 Norte. Lá embaixo os zumbis vão se aglomerando. Os suplementos estão quase no fim. Daqui um ou dois dias vou ter que sair daqui, de alguma maneira, mas ainda não sei como. Pela portaria é impossível. E também não faço ideia pra onde ir nessa cidade. Aviso por aqui quando for tentar fugir. Se eu não aparecer mais, é porque não consegui.

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  2. Estou na Anhanguera ainda, estou em uma casa e me deparei com um desses, para minha sorte o corpo dele já estava bem passado mas me deu um baita susto. Não sei exatamente em que altura estou mas onde estou está chovendo bastante e é uma casa pequena de madeira.
    Vagner, antes de sair para a rua, procure em outros apartamentos por suprimentos, evite a rua ao máximo.

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