domingo, 2 de janeiro de 2011

Dia 47

Já passei muitos aniversários ruins (ou sem graça) – principalmente por ser comemorado no início do ano, quando ninguém está aqui. Mas nada comparado com hoje, quando meu presente foi um mundo cheio de mortos-vivos. E adivinhem? Não tem ninguém por aqui.

Assim como o ano novo (sem contagem regressiva, rabanada e muito menos fogos – tiros não contam), eu e Anna comemoramos meu aniversário finalmente saindo para ver o que há nessa chácara que escolhemos como porto seguro (por enquanto). Quando vinha aqui, antes – era de um amigo –, parava na varanda e me perdia em cervejas e carnes. Nunca liguei muito para o restante.

Sorte eu ter escolhido uma bota/coturno no shopping – e logo conto o motivo. Em tempos como esse, não se pode mais andar de tênis. Ambos armados, saímos para ver o que tinha na segunda casa. O que encontramos não foi nada agradável: comida estragada e dois restos de cadáveres – um deles pode ser, possivelmente, meu amigo, ou são parentes.

Conferimos o restante da chácara, que parece um tanto largada e silenciosa. Conseguimos colher (quem diria) alguns legumes e frutas. Hão de ajudar. O problema foi a volta. Quando subimos o morro – é uma ladeira dos infernos –, percebemos que tinham cinco zumbis rodeando a casa. Pensávamos que estávamos sós, longe da cidade. Engano nosso.

Tivemos de escolher, eu e Anna, se dávamos meia-volta e procurávamos outro lugar ou se tentaríamos voltar para a casa. Se escolhêssemos a segunda, sabíamos que os mortos-vivos continuariam rondando esse lugar. É o cheiro de nossa carne... O problema é que escolhemos justamente a segunda, pois nossas coisas estão lá. Comida, armas, tudo.

Combinamos de correr o máximo que podíamos e, no início, despistamos fácil a maioria deles. O problema é que o último conseguiu se agarrar a mim e pedi que Anna continuasse correndo. Você deve imaginar que é fácil atirar em alguém (ou alguma coisa) assim, tão de perto. Não quando ele está te agarrando. Com muito custo e safanões, consegui me livrar dele, mas o morto-vivo, já completamente em frangalhos por causa da decomposição, me agarrou a perna e desceu o dente no meu pé. É aí que entra a bota. Não fosse ela, hoje eu estaria calçando 41 e não 44. E Anna estaria sozinha, pois eu não voltaria para casa.

A noite de meu aniversário foi assim. Comemos alguns enlatados e algumas frutas escutando, à luz do lampião, os gemidos do lado de fora. Eles estão perambulando ao redor da casa. Vez ou outra tentam entrar pela porta ou pela janela. Estou começando a desanimar com toda essa loucura...

Um comentário:

  1. Aqui em São Paulo está um calor dos infernos e não largo mão do coturno nem pensar. Alguns mordem nos pés mesmo, estão deitados e vc acha que não vão se mover e NHAC, mordem mesmo. Meu pé está virado em bolhas mas sempre que posso tiro o coturno e relaxo os pés, dê um alívio pro couro senão ele fica muito macio.
    E feliz aniversário, acho que esse pacote de miojo aqui seria um ótimo presente pra vc. À sua saúde.

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