Um natal com os mortos-vivos. Jamais pensei que diria essa frase.
Não me lembro se contei para onde estávamos indo. Fato é que fiquei dias sem comentar nada aqui. Não sei se por falta de esperança (muitos dos que estavam me acompanhando desapareceram. Não sei se estão vivos. Apenas o Cedric se manifestou recentemente) ou por todo o trabalho que tive aqui na chácara. Sim, eu e Anna acabamos em uma chácara, longe da cidade.
Já chegamos aqui sem energia. Não sabemos se é a região ou se as cidades estão começando a ficar às escuras. Aposto mais na segunda alternativa. Por sorte, a chácara que escolhemos (a de um amigo, no caminho de Brazlândia – o nome é esse, por mais engraçado que seja) tem um vasto estoque de velas e lampiões. As áreas rurais sofrem com a falta de energia nas chuvas e com as queimadas das secas.
Antes de comentar sobre o Natal que tivemos, vem a parte chata. Tivemos de matar sete mortos-vivos que estavam perambulando pelas terras, quando chegamos. Acho que pelo menos uns quatro trabalhavam aqui. Já era fim de tarde e foi apavorante ter de lutar contra aquelas coisas na penumbra. Quando o sol se põe e não há postes de iluminação, o gorgolejo dos zumbis é mais aterrorizante. E por incrível que pareça, todo o corpo parece escuro, menos os olhos. Dois círculos brancos e horrorosos em meio à escuridão.
A chácara é linda, cheia de jardins, mas um pouco descuidada por causa do tempo. São duas casas, uma que era da família e outra de apoio. As duas fotos foram tiradas por Anna (uma do caminho até aqui – quando atropelamos apenas um morto-vivo e verificamos a eficácia dos ferros soldados ao carro – e outra da chácara).
O Natal foi o mais triste que já passamos até hoje. Estivemos longe das pessoas que amamos e, à luz de velas (para poupar a querosene do lampião), comemos comidas enlatadas. Nada de ceia, peru, pernil, passas...
Também passamos a virada ouvindo mais dois zumbis lá fora. Decidimos que não os mataríamos nos dias 24 e 25. Não nesses dias.
Anna foi dormir e estou acordado. Fico pensando se ainda há alguém lá fora. Se há um porto seguro, alguma instalação do governo para refugiados (em filme isso funciona – na vida real eu duvido).
São Paulo está um caos. Achei que tinha encontrado um sobrevivente ams era um zumbi que ainda andava como um vivo. Não sei o que está acontecendo por aqui mas eles não são essas criaturas lerdas e toscas que estavamos acostumados a ver. Não sei o que está acontecendo mesmo, ando sem tempo para relatar mas sempre que possível relato. Um forte abraço e Feliz Natal, na medida do possível.
ResponderExcluirAs coisas complicaram um pouco aqui, mas estamos bem. A demora em postar é por economia de recursos. Acho que teremos de mudar de cidade...
ResponderExcluirFELIZ NATAL A TODOS OS SOBREVIVENTES E QUE ANO QUE VEM TUDO SE RESOLVA!!!