terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dias 35 e 36

Não pude escrever no último dia. Anna esteve febril e ficou deitada o tempo inteiro. É a primeira vez que acontece isso e fiquei realmente preocupado. Estamos nos alimentando mal, talvez seja isso. Fato é que quis sair para buscar remédios. Ela não deixou. Mesmo porque não sei se teria coragem de deixá-la aqui sozinha, mesmo protegida pelas paredes desse enorme shopping.

O dia de hoje, no entanto, foi interessante. Anna ainda não demonstrou interesse no que eu escrevo, assim, espero que ela não leia este texto em particular. Hoje, logo pela manhã, transamos como loucos. “O quê?”, você deve estar se perguntando... Mas foi exatamente o que aconteceu.

O beijo anterior de Anna provavelmente foi uma afirmação de sua opção sexual ante a tentativa de Karen. Mas depois dessa noite, quando dormimos abraçados (ela tremia de frio graças à febre), alguma coisa mudou.

Quando dei por mim, estávamos derrubando alguns livros de uma estante em um sexo louco que poucas vezes experimentei. Não sei se foi a seca dos dois (mais de um mês sem), se o fato de notarmos que existem poucas opções por aí ou simplesmente porque já deveríamos ter feito tudo isso há muito tempo.

Mas o sexo em si não interessa aos que estão lendo isso. O que veio após o clímax é o que interessa. Após Anna dizer algo como “temos de fazer isso mais vezes”, olhamos para o lado e percebemos que um morto-vivo nos observava, com a cabeça torta. Uma baba bovina e elástica pedia de sua boca – ou daquela pele necrosada que um dia foi um lábio.

Corremos pelados – pode rir, eu sei, a cena é patética –, cada um para o lado. Só então me lembrei que tinha deixado a arma próxima ao local onde dormimos e voltei. Foi quando o zumbi despertou de sua letargia e atacou. O fez berrando um som gutural, horrendo. Há muito não ficava tão nervoso com a arma na mão. Estava sentado, tremendo, com ela na mão, rezando para que pudesse dar um tiro certeiro na cabeça antes que ele me alcançasse. O primeiro pegou no pescoço, mas o segundo foi certeiro, pois ele avançou para cima e praticamente me deu a testa para um tiro a queima roupa.

Acho que por estar sem roupa me senti desprotegido. Mais do que o normal – embora as vestimentas do século 21 não sejam lá nenhuma armadura. Droga... Os miolos do zumbi fizeram questão de estragar essa bela parte da loja – uma que estava começando a me acostumar. Pior, é o primeiro tiro que dei aqui dentro. Terei de torcer para que o barulho não atraia mais deles.

Antes de escrever isto, fiquei matutando... O que aquele morto-vivo estava fazendo? Ele poderia ter atacado e ambos deveríamos estar mortos. Mas ele não avançou. Será que dentro desses cérebros mortos pode haver algo? Eles não falam, não sentem dor e parecem não ser capazes de usar ferramentas ou armas. Mas algo me diz que os cérebros dessas coisas não estão tão mortos assim... 

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